segunda-feira, agosto 26, 2019

Preto

Você deixou algo aqui comigo.
Sua sensualidade ficou por toda a casa.
Esse cheiro bom, essa espontaneidade, essa voz mansinha, seus olhos de criança curiosa, as suas mãos hábeis...
Eu ainda vou passar horas lembrando de cada pedaço, cada detalhe...
Seu cabelo lindo rastafári... Esse peito gostoso que acomodou tão bem a minha cabeça, esse jeito de quase morder o meu pescoço, esse abraço denso e confortável que me tira o chão... e o fôlego!
Seu jeito de dormir e abraçar com os braços e pernas...
Te dei muitos beijos enquanto você dormia, sabia?
Tomara que tenha tido bons sonhos...!
Nossa, faz tempo que não tinha uma noite tão agradável!
Você é todo colo. É todo desejo, é todo vontade...

Você deixou saudade.

Snow, num pillowtalk

terça-feira, agosto 06, 2019

Pitanga

Conheci Pitanga em 2011. Eu sei porque já era chegado o tempo em que tudo se documenta nas fotos de celulares.
Um amigo em comum nos apresentou para que eu o ajudasse com a carteira de trabalho, e era o que eu fazia na época.
Atendi Pitanga fora do horário, eram mais de 19:00h, meu chefe desceu, me olhou atravessado... e eu mal consegui olhar pros lados. Lembro de ter falado sobre a foto com piercings, que ele usava. Decidimos por deixar. Ele era estudante de humanas, certamente não seria um problema para um futuro patrão aquele detalhe. Um contato tão breve, tão profissional, tao simples... Teria ficado só nisso se o nosso amigo em comum não fosse tão intenso em tudo na sua vida.
Dias depois estávamos os três num bar, nós e mais alguns que esse nosso amigo agregava. Durou muito pouco também. Mas dessa vez eu pude olhar pra aquele que até então eu só lembrava  de ter comentado que tinha achado bonita a impressão digital... em meio aos mais de 200 documentos de minha cota diária...
Nos adicionamos nas redes sociais.
À partir daí tivemos longas conversas sobre nossos assuntos em comum: futebol, religião e política. E eventualmente sobre alguma particularidade de nossas vidas. Conversas longas e espaçadas às vezes por anos. Essa coisa que as redes sociais fazem de que compartilhar/curtir/comentar substitui um "oi, como vai? Bora ali!"
Pula pra 10 de novembro de 2017. Recebo pela internet a noticia do falecimento de um ex-estagiário... que por acaso a ultima vez que tínhamos nos visto foi numa madrugada de carnaval do mesmo ano. Sua vida fora tirada num suposto assalto que nunca será esclarecido. Gay, preto, militante, petista... Viveu como um meteoro seus 26 anos. Foi intenso, verdadeiro, humano. Como me parece ser a vida de todo mundo que vai embora assim tão rápido.
Durante o cortejo, uma mão afetuosa toca meu ombro e me chama pelo nome. Embaçados, meus olhos não reconhecem o semblante. A mão sai do ombro e alcança a minha. Não a rejeito. O chão estava difícil e eu não conseguia levantar a cabeça por alguns passos até que perguntei o nome daquele sujeito. Era Pitanga. Estávamos no funeral daquele que anos atrás nos apresentara. Andamos de mãos dadas durante todo o cortejo... Nos despedimos, trocamos whatzap, prometemos ir ao funeral de quem se fosse primeiro...
Para mim, a perda foi mais leve. Para ele, não. Moraram juntos, faziam o mesmo curso, viajavam. O amigo, que se foi, em muito o tinha ajudado a se graduar. Acompanhou doenças, o luto do pai, dividiram prantos e pratos... uma amizade memorável!
Nos dias seguintes eu tentei acompanhar Pitanga enlutado. Um pouco porque é muito comovente toda essa situação, um pouco por ter estudado um disciplina sobre esse assunto há uns anos atrás e um pouco mais, porque sem querer, naqueles minutos em que durou o tempo que passamos de mãos dadas, eu havia me apaixonado.
Novembro durou um ano em seus 20 dias restantes. Fizemos amor muitas vezes no sofá de casa em meus pensamentos indisciplinados até o dia em que resolvi quase... contar!
Ele cortou. Mas não foi suficiente. Parece que queria cortar qualquer contato e eu, claro, queria pelo menos contornar.
Um mês depois ele explodiu. Me disse um monte de coisas indelicadas, agressivas, ásperas. Talvez essa seja a única forma que algumas pessoas encontram para conscientizar seus cortejantes de que "não vai rolar".
Passei dezembro inconsolável.
Geralmente os lutos de minhas paixões que acabam antes de terem se tornado reais duram de 2 a 3 meses. Não foi diferente.
Pitanga foi excluído e bloqueado de todas as redes sociais porque era a sua vontade. Não mora nesta cidade, não anda de transporte público, nosso único amigo em comum não vive mais... Ele não irá para os contos de um livro, caso um dia eu o faça. Contei essa história aqui porque tenho sentido uma necessidade quase urgente de ser autobiográfica. E essa tem elementos demais.
Sobre ele, o registro mais impactante para mim será do filme que assisti durante os dias de romance inventado, de uma frase que eu queria ter dito, sussurrada, durante as tardes de férias em que, sem saber, ele habitava meus pensamentos, a minha cama, o meu sofá.
A frase do filme do ator homônimo, que na verdade é um nome artístico inventado na cidade de Cachoeira-BA, o pai do Rocco e da Camila, o grande Antonio:


-Pitanga é fruta de chupar!!


Snow, catártica.



quarta-feira, julho 24, 2019

Reserva



Não contem lá em casa que eu ainda escrevo.
Esse é o nosso segredo.

Snow, sem.

domingo, julho 21, 2019

Argumentos

- Não, porque gato transmite doença.
- E os seres humanos?
- Mas gato é interesseiro, falso e fingido.
- Sim...?
- É que gato só te lambe quando quer comer.

- 😏


Snow, felina.

terça-feira, julho 16, 2019

Reforma

A classe média resolveu me chamar de amarga
Alcunha graças à minha consciência
Eu que tanto os fiz rir com minhas desgraças,
Meu jeito de contar histórias tristes engraçadas...
Hoje caminham sem saber que o abismo os observa
Abandonam o bom senso e a si mesmos
Tantos coelhos numa só cajadada

Perdem o amigo, a piada, e a previdência.


Snowflake, com esse gosto de sabão na boca

sábado, julho 13, 2019

Yuka



Já passei tantas vezes por isso na vida e é sempre tão.. diferente. Atestar o óbito das 7 vidinhas contidas num anjo de 4 patas é muito difícil, por mais q seja esperado.
Eu olho e vejo respirando. Toco, e o meu pulso empresta o ritmo. Aí vou pegar o espelho.. 

E minha vista embaça..

Adeus Yuka...
(Faleceu em primeiro de janeiro de 2019, às 16:30h...
Passou 5 anos comigo.
Foi pro céu da gatas lindas.)


(...)


O Marcelo Yuka, dono do nome dela, baterista e letrista do O Rappa, faleceu dia 18 de janeiro desse ano, aos 53 anos... O músico mais verdadeiro de todos os tempos para mim. Cantou o que sentia, viveu o que cantava até o último suspiro. Despertou em mim minhas primeiras visões políticas sobre como se formava e como agia a desigualdade e com sua música ajudou a desembaralhar meus pensamentos confusos nos anos 90... salve!
Tomou 3 tiros num assalto em 9 de novembro de 2000, perdeu o movimento das pernas, a vida saudável, a carreira, amigos... Processou a Taurus para que ela dissesse de qual material era feita a bala que se alojara em sua vértebra para que os médicos fizessem um antídoto para aliviar as dores terríveis que sentia... Ganhou a causa, mesmo assim a Taurus não disse. Não houve juiz nem justiça no planeta que trouxesse alento às dores que sentia, nem que fizesse os donos da bala cumprir uma decisão judicial humana tão simples...
Viveu seus últimos anos fazendo letras e músicas pra uma banda (F.U.R.T.O) que não ficou conhecida. E dava palestras em cadeias para as pessoas em que ele acreditava que precisavam o ouvi-lo, no seu tempo livre... Entrar numa cadeia não é para qualquer um. É pra quem tem coragem sobrando. E ele que nem andava, não correu disso...
Marcelo Yuka gravou em mim sua história de vida. Poucas são as pessoas vivas ou mortas que tenho em tão alta conta... Revolucionou muitas vidas e teve uma vida dolorida, tão dura..
Yuka, presente! Rs 

Snow Yuka da Silva, em homenagem ao dia do rock, sem perder a ternura.


sexta-feira, julho 12, 2019

Bozo

Eu queria escrever aqui umas 500 páginas sobre o quanto esse governo ruim está afetando a minha vida, mas já estou cansada...
Vou voltar pro Twitter.

Snow, esmagada em todos os sentidos.

quinta-feira, julho 11, 2019

Acaso

Sempre morei em casa, nunca em prédio de andares.
E desde sempre imaginava que, por ser habitado por mais gente por metro quadrado, dividindo espaço e algumas vezes intimidades,
as pessoas de condomínios fechados por lá mesmo se encontrassem, se conhecessem,
E se apaixonassem...
Hoje sei que é só mais um ambiente como qualquer outro,
E a probabilidade de uma paixão ocorrer seria igual à de um contato, um amigo, um assinante de canal, um seguidor, um like...


Numa rede social.

Snow, sobre a imensidão

terça-feira, julho 09, 2019

O último poema que eu fiz pra você

Qual pássaro fecundando a vida num jardim sem dono,
Vibrou em uníssono sobre as pétalas de outro ser
Singelo e absoluto como quem ocupa um trono,
Paralisando o tempo num outono que ainda não era
Misturou pólen e néctar,
Foi caule, folhagem e seiva
Não criou raiz, não viu o fruto
Nasceu e viveu pra sempre numa tarde de primavera

Não quis amanhecer.


Snow, para Jonnhy, aquele B. Goode

segunda-feira, julho 08, 2019

Menino do Rio

Tenho te imaginado perto... quase ao alcance. Quase inteiro, quase possível.
Mas vc mora longe.
Tenho rabiscado papéis aleatórios e escrito trechos que desprezo. Tenho feito pequenos poemas, estrofes de uma nova canção de lamento..
Tenho te imaginado de olhos fechados, quase rindo, quase vindo, quase...
Feito bicho manso de sono tranquilo, tenho te imaginado sonhando, porque eu mesma o ninei pra dormir...
Tenho te imaginado aqui.
Tenho te imaginado nos contos românticos que invento, nas cartas que não postei, nos textos que não escrevi.
Tenho te imaginado tanto que dia desses me peguei pesquisando as tarifas aéreas e os pacotes cvc
Tenho até sonhado, olhado a tela repetidas vezes pra ver se era vc,
Vc tem estado tanto no meu pensamento quando durmo, e não vai embora quando desperto, que não há dúvidas de que estou mergulhada neste intento
Tenho sonhado acordada contigo,
Tenho te imaginado perto,
Quase dentro.


sábado, julho 06, 2019

Querido Jayme,

Adoro seu nome. Me dá a ideia de um doce que derrete fácil… Um dia eu quero dizer ele para o dono dele e provar a ambos com a mesma boca que agora só pode imaginar-te e morder os lábios…
Eu acho incrível como um minuto com você me abastece de uma saudade de dias! Me enche de paz. Mesmo estando há quase 1000 km de distância dos teus braços…
As vezes procuro evitar sentir tanto assim por alguém que ainda não me viu de perto. Eu acho desonesto. Eu tenho esse problema com “honestidade”. Queria contar e te dizer precisamente a quantidade de cabelos brancos, as rugas, as celulites, estrias, os sinais da idade, tudo… Qualquer coisa que te fizesse repulsa para tentar garantir que você está mesmo falando com alguém que existe para além destas letras... Pois é... eu não quero que o meu talento de escrever provoque além do que eu possa realizar em você, então quero equilibrar.
Equilíbrio é todo o desafio da minha vida porque não sou uma pessoa equilibrada em quase nada. Por exemplo, enquanto escrevo aqui sobre equilíbrio, eu só penso em puxar você pra dentro de mim e isso não parece equilibrado já que ao mesmo tempo seria puxá-lo para fora do seu mundo, para fora de você mesmo... e mesmo assim eu quero.
Como um pescador que joga o anzol e puxa o peixe e passa sal e pimenta e o assa e come! Rs Veja como no mais inocente dos meus pensamentos eu ainda acabo te almoçando!
Estou com saudade, releve.. rs
Meu bem, meu desejo de te ver só aumenta.
Beijos,

Snow, numa rara carta com destinatário.

P.S. Eu vou postar de vez em quando algumas das cartas que não foram enviadas, e-mails que ficaram nas caixas e rascunhos, antes que a traça do tempo os leve de volta ao pó, como também iremos..

Estacão Flamboyant

Eu gosto do som da palavra flamboyant
Flã - bô - iã...
Dia desses busquei no Google e descobri que é a flor que minha avó chamava maravilha.
E dizia que quem planta maravilha, morre.
Minha avó, que não está mais aqui,
Há anos,
Ainda me inspira a descobrir outros nomes para o que eu sempre soube,
E ainda me presenteia com a metáfora sútil de que,
Nem sempre quem planta,
Colhe.

Snow, sobre coisas que só se entende com o tempo.

quinta-feira, julho 04, 2019

Voltei!

Os caminhos de repente começaram a ficar muito congestionados e eu me lembrei desta via alternativa, geralmente livre, e resolvi andar por cá.
Não sei por quanto tempo, mas vou aproveitar esse momento em que ninguém lê mais nada e eu posso escrever em paz. Hoje em dia é tão mais fácil... Estou digitando na palma da mão, no celular... horário de almoço, fones de ouvido com barulhos de chuva na Spotify... Uma chuvinha gostosa que na verdade serve pra me desconectar dos diálogos aqui na sala, mas que também acalma.. Ficou tão fácil escrever e postar! Daria inclusive pra falar e o teclado inseriria as palavras... mágica!
Incrível como com tanta facilidade, ninguém fala nem ouve mais nada. Ou talvez o façam, cada um com seus pares... e a gente segue lendo os desastres no noticiário..
Querido diário, me deu saudade.
Mas se encher de gente aqui, eu novamente saio.
A vida é curta e a minha paciência tá na mesma vibe.

Snow, de passagem.

terça-feira, janeiro 12, 2016

Perdida

Encontrei por acaso agora, uma lente de contato no chão. Alguém, nessa cidade embaçada, anda por aí sem o brilho nos olhos...

E sem visão.

Snow e seus olhares

terça-feira, janeiro 05, 2016

Modernidades

Mãos dadas na beira da praia,
Beijo ao entardecer vendo o sol se pôr,
Dançar juntos na água do mar,
Um bilhete, um sorvete, uma flor, uma água de coco,
Um abraço de sentir saudade...
Carinho na grama do Cristo da Barra...

E o povo só quer saber de mandar foto do pau no WhatsApp.

Snow, culturalmente chocada.

Duração

Minha lente de contato agora pára de funcionar por volta da meia noite. Não vejo mais as placas, os rostos e nem posso precisar nada além de um metro.
Nada distante o bastante pra servir de oásis, nesse pequeno deserto.
Só livros, espelho, telas...
Memórias, devaneios, introspecto...
É a tecnologia me fazendo voltar o olhar pra mim mesma.

E eu chamo isso de visão, no modo  cinderélico.

Snow, míope

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Ensaio sobre o inodoro

Caiu perfume nos meus olhos e como ardeu!
Mas ali, entre o susto de uma lágrima e um pensamento cego, me ocorreu,
Que no breve instante da evaporação daquela gotícula de álcool com essência e água desmineralizada, aconteceu um milagre:
E então enxerguei pela primeira vez,

O mundo de uma forma perfumada.

Snow, num piscar de olhos

domingo, novembro 09, 2014

Gourmet

Veio rosa, queria ter sido espada.
Sonhou-se degustada verde,
com sal e água na boca na beira da estrada,
depois de derrubada do pé com a força de uma vara ou pedradas rústicas.
Mas sem desejo, sorte, nem épica batalha,
e ao lado de pêssegos, morangos, ameixas e uvas,
morreu inglórie ao leite condensado,
numa efêmera taça de uma salada de frutas.

Snow, dando pano pra manga.

terça-feira, março 25, 2014

Senhorio

Alimento-me da tua boca, enquanto teu braço me segura
Teu braço parece que foi feito para a minha cintura
Visto-me do teu corpo quando estou nua
Quando o teu corpo é meu, é que sou tua
Guio-me pelos teus pés quando perco o chão
Leio o meu destino na palma da tua mão
E olhando nos teus olhos é que me vejo...

Tuas ordens, nada menos do que meus desejos.

Snow, num império de paz.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Pequena lição sobre diferença de potencial

Toda vez que você colocar o dedo em uma tomada levará um choque. A menos que a tomada não funcione. Mas nesse caso, ela não servirá para nada.
Pessoas são como tomadas. Não teste as pessoas. Elas sempre irão reagir. A menos que estejam mortas.

Snow, sobre essa galera que mete o dedo na ferida e depois se choca.

sábado, janeiro 18, 2014

Histórico

Não houve papel passado,
Inscreveram-se em areia de praia.
Fez chuva, não viram o sol,
Ardente como amor ao meio-dia,
Amor de noite - mordiam-se.
Não haverá lápide,
Uma onda levou seus contos de fada.
Ninguém os viu admirar o céu nublado
Na madrugada em que o dia se esqueceria de nascer...
Há neste momento apenas o mar e a terra.
Não vêem estrelas,
Nem farão pedidos ou registros em sistemas regulares.
Foram pro céu,
No breve instante da duração de um poema,
fecharam os olhos,

Constelaram-se.


Snow, ressurreta.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Prólogo do Prolongamento

Aviso aos mortos e feridos que voltei.
Frustrada e arrependida, tal qual fênix que não morreu ainda, apenas sacudi a poeira dos anos.
Não queimei! Que pena...
Seria mais glorioso ser póstuma. Saber que entraram aqui em minha ausência, reviraram minhas gavetas à procura de manuscritos, solicitaram minhas senhas para descobriram algum arquivo particular online, alguma carta eletrônica de amor que nunca foi entregue, publicaram minhas agendas... Mas, nem!
Não fui desta para melhor, nem muito piorei. Pouco ou quase nada mudou, além da velha e nobre esperança agora com alguns fios de cabelos brancos, não há o que ressaltar.
Talvez umas rugas na pele da escrita, talvez alguma alusão às novas tecnologias, como convém...
No mais, queridos, raríssimos, (se houver!),

Lamento, não fui além.


Snow, aquela.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Glossário

Confiar é alargar os espaços, diminuir as restrições, aumentar as permissões, zerar as diferenças, dar corda...
Confiança é uma coisa bastante complexa.

Já a traição é simples. Basta pular a cerca.


SnowFlake

terça-feira, setembro 01, 2009

Poesia

ANÚNCIO - VENDO
(04/08/04 Cláudia)

Vendo uma cama grande demais
alguns cabides nus
duas gavetas vazias
um copo com hálito
e tres cobertas frias.

Vendo um cinzeiro com baganas
umas gravatas bacanas
um travesseiro de penas
meu eu entre as pernas.

Vendo a copia da chave
um shampoo pela metade
um velho aparelho de barbear
e ganhe grátis o meu ar.

Vendo uma escova de dentes usada
e um creme dental apertado no meio.
Vendo os meus dois seios
e minha camisola rendada.

Vendo um criado-mudo
cheio de fotos deixadas.
vendo meu album de casamento
da lua-de-mel
e de noites estreladas.

Vendo o meu coração em pedaços
meu corpo aos trapos
minha boca beijada.

Vendo tudo o que foi
tudo o que está.
Vendo quase nada.



Vendo
(04/08/04 Everton)

Dois olhos gastos
Um pedaço de sonho
Velho mas intacto
Vendo fatos leves
E uma lágrima santa

Raridade

Vendo uma saudade
Grande
E um sorriso torto
Caiu no chão

Pequeno acidente

Vendo
Duas mãos espalmadas
Feias de dureza
Mas ainda sensíveis ao toque
De um rosto

Vendo
Dois lábios calados
Com um pequeno defeito
Só se abrem para beijos verdadeiros

Vendo um coração sem jeito
Um pouco antigo
Fora de compasso
Em pedaços
Mas com belos traços de carinho
A quem se interessar
O amor vem junto
A quem jurar paixão,
Alugo

E para quem conseguir juntar as partes
O coração é grátis


Compro
(05/08/04 Maia)

uns sonhos loucos
pensamentos soltos
sentimentos doidos

agora

Compro
uma vontade de estar perto
urgência sem remédio
saudade sem tédio

sem demora

Compro
um sorriso aberto
sem medo
sem graça
sem vergonha

sempre

Compro
um corpo quente
pras mãos frias
a febre
sem mazela conhecida

diariamente

Compro
uns lábios macios
de vontade
uma boca molhada
de saciedade

Compro
um coração
acostumado com a queda
feito colcha de retalho
a mais bela
um peito aberto pra janela

Compro tudo isso
e um pouco mais
compro de mim mesma
e guardo pra ti
pra quando chegares de longe
e não quiseres mais partir


Snow... bom, eu só fiz mesmo foi me emocionar com isso. O autores são da Jucunditas.

sábado, julho 25, 2009

Contraste

Um amor criado em cativeiro encontra um amor selvagem.
O amor bicho solto fica. Amordaçado vai...
Já o amorzinho manso, a mando do outro, vê a porta aberta... e não volta mais.


Snow

quinta-feira, julho 16, 2009

Às margens da esperança

O que é que a gente faz quando gosta de alguém que não gosta da gente? - "Ah, daí a gente desgosta", me desinquiriu. Não tivesse essa nossa conversa sido, nem não sei se gostasse tamanho. E não por as idéias só, entanto no ato de. Estimei mais por justo ela ter me desgostado. A gente toma de paixão aquilo que perdeu e que já foi, nem que por obra de imaginação, nosso pertencido. Na frieira que me lembra mais, estando mesmo nós dois agazalhadim, se aconchegando. Mas por que?, o senhor me pergunte, o senhor me escute, que eu disse na crueza não ter a maior estimação por si e verdadei. Eu tinha posse, então não me afligia mais de gostar. No que ela, consoante do seu pensamento, resolveu criar desgosto em mim. Na insta hora, se acresceu ela por aqui de dentro. Disse p'r'ela: Ouça, falei no falar, bobéia minha, nem não conheço o que me penso, você me sabe - já era tardio. Agora tenho fé que, se insuflar no pensamento meu, que nem não seja provado de reaver seu ter, desencareço. Mas é dito: a esperança é a última finada. Trocar não há, os gostares só se crescem. Gosto inda d'outras, já mais desiludidas. A que conto tenho mais fresca na memória. Lembro dos seus olhos comprazentes, no à sós ela me espiava. Sei só o tempo pode, já não afeto mais, fico a des-esperar. Ah, se.


(Milton Betty)

domingo, junho 21, 2009

Crianças

Cheguei em casa com oito esqueletos de dinossauros do comprimento de uns 30 cm cada, acompanhados de suas réplicas menores, com pele, olhos, e cada qual com sua árvore e manual de montagem... Ainda assim, levava em média 5 a 10 minutos para montar cada fóssil de plástico fluorescente os quais comprara fiado no camelô perto do trabalho com quem ainda deixei guardado mais 4, que completavam a coleção, mas que na ocasião, eu não os podia carregar. No meio dessa tarefa quase árdua, um diálogo:

-Titia, João Matheus tem um esqueleto de dinossauro parecido com esses só que é pequeno e branco e não desmonta não, já veio montado.
-Hum.
-Titia, João Matheus disse que aquele esqueleto foi Papai Noel quem deu.
-Pois diga pra ele que os seus quem deu foi Titia Noel.
-E existe Titia Noel?!
-Existe sim: Eu!
-Ahahahahahaaahah!!!

Acho que a origem da lenda do bom velhinho está associada a um também velho ditado que diz respeito aos milagres que são desconsiderados se feitos pelos santos de casa. É verdade, a vida é assim...

No auge dos seus nove anos de idade meu sobrinho não acredita mais em mim.


Snow, com os dedinhos doendo de tanto apertar pinos de ossadas...

Confissão de Fidelidade

Quando tinha 8 anos, me apaixonei pela primeira vez.
A criança tinha 7 anos e cabelos compridos e por esse último detalhe eu não sabia se era menina ou menino. Por esta razão e por alguma outra que desconheço sempre lhe fazia a mesma pergunta e, apesar de ouvir sempre a mesma resposta q às vezes vinha irritada, a esquecia quase que instantaneamente.
Na véspera do último dia de aula, me dei conta q veria pela última vez do ano aquela pessoa, então fiz um plano de perguntar e me esforçar muito pra memorizar a resposta, já q levaria um tempão (naquela época às férias eram um tempão) sem que pudesse fazê-la novamente. Era um menino. Chamava-se Valquer. Ou Valter. E é uma pena que eu não tenha incluído também esta resposta no plano.
Ano seguinte, depois de procurar por ele em todas as possíveis salas até o final do primeiro semestre, me convenci que se ele não voltasse depois das férias, era porque, por mais duro que fosse entender isto, já devia estar estudando em outra escola... Semestre seguinte parei de procurar. Mas não de pensar que o via pelos corredores, distante e de costas, ou em alguma sala que eu não enxergava e não podia entrar.
Quando o ano letivo acabou coloquei um prazo pra essas visões acabarem: o início das aulas do ano seguinte.
Válter, ou Válquer, não voltou.
Foi assim que aos 10 anos eu consegui o meu primeiro grande problema: o que fazer com as paixões perdidas? Só 10 anos depois descobriria que essa resposta não é dada na escola...
O vazio deixado por aquele ser humano branquinho, mais novo e de cabelos compridos foi se tornando mais fraco com o tempo... E vez ou outra tirava um tempo pra dedicar-me a apenas recordar como ele era e como éramos, quando ele era comigo. Nesses minutos, nessas horas, eu chorava. Chorava como uma adulta...
Tinha um terrível medo de que a lembrança dele se afastasse de mim. Queria muito ser forte o bastante pra jamais permitir. Tinha um medo enorme de meu coração o trair.
Só 20 anos mais tarde começaria a entender que é possível estar-se apaixonado por várias pessoas sem que se possa trair nenhuma delas. Porque é possível até que nenhuma delas saiba desta paixão que se tem. Porque o coração tem mais quartos que uma pensão de putas. Como li no Garcia Marques, Memórias de Minhas Putas Tristes.
Mas há 20 anos atrás, quando apareceu um outro rapaz em minha vida, não poderia suspeitar que nada disto existisse.
E este segundo foi mais um dos muitos que jamais souberam que eu o amava.
Esse tinha nome, sobrenome, perfume, era mais velho, moreno... Pra este eu fiz minha primeira carta. Que ele jamais supôs que fui eu quem a escrevi. Isto porque, na minha ânsia de impressionar, imitei a letra de uma menina da sala que eu achava que tinha letra bonita. Foi assim que ele leu meu escrito... E se apaixonou perdidamente por ela...
Ah, meu Deus, como eu sofria vendo ela o rejeitar como a um cachorro! Lembro que cheguei até a conversar com ela pra que o aceitasse. Não agüentava mais vê-lo sofrer.
Já a essa altura o clima tava meio tenso no meu coração. Ora este ora aquele amor me vinham à lembrança e eu sofria por não ter vindo o que eu queria ou por não empatarem, como eu achava que deveriam.
Só que dessa vez fui eu quem mudou de escola. E de bairro. E de vida. (Taí uma coisa que, se um dia filhos eu tiver, jamais quero fazer a eles: roubar-lhes com a distância os amigos de infância. Porque talvez sejam estes os melhores que uma pessoa possa ter na vida.).
Longe, e novamente só com a memória, decidi então tirar dois tempos onde, num momento, me lembraria de um e, noutra hora, recordaria o outro. Assim, equalizando a quantidade de lembranças e emoções e lágrimas, acreditava estar dando assistência a ambos os meus amores. Pouco suspeitava que o remédio que decidi tomar pra não trair era o que anos depois teria gosto de veneno.
Sei que já contei essa mesma história aqui, noutro post que não lembro, e sei que é só mais uma reeditada.
Nunca entendi bem a mudança. Nunca encarei como bom um final. Preferi sempre deixar estas questões mais complicadas pro Tempo resolver. Ele que é meu chefe, sabe mais das coisas que eu que, no fim das contas, só faço mesmo o que ele manda.
Mais sei que é bom este momento em que o layout atual fica mais fraco porque uma nova configuração está sendo instalada...
Ah como eu adoro histórias novas com seus começos que enchem nossa mente de beleza e de gentileza e de encantos e de graça...! Ah como gosto de novidades capazes de ofuscar lembranças empoeiradas! Puxa, eu gosto disto demais!

Sabe quando acontece uma coisa nova assim, muito boa pra a gente e ficamos morrendo de vontade de contar? Pois é, era sobre isto que eu queria falar!

Mas daí que comecei a escrever... E voltei no tempo muitos anos atrás.


Sonw, de sua coleção particular de histórias que não servem.

segunda-feira, maio 18, 2009

Esclarecimento

Amigos, não se desapontem comigo, mas eu não gosto de pessoas.
Gosto de histórias de pessoas.
E nem a história normal, aquela grafada nos hieróglifos dos prontuários médicos, carimbada nas certidões públicas, lavrada nos autos, fotografada, filmada, assinada... Não, nada disso! Eu gosto mesmo é da história contada.
E nem da história em si, que a história per si não diz nada, mas da pessoa ali na história, enfim.
Amigos, por favor, não se aproximem de mim! Não tenho algo assim pra compartilhar. De modo que prefiro, para este meu criterioso e ao mesmo tempo irregular deleite, me dar com estranhos, que me entranhar em tantos com os quais tenho que lidar.
Seria bom ser antropóloga, sozinha, numa tribo distante olhando com olhos de viajante aquelas vidas nuas, encobertas de símbolos para decifrar. E estar ali, protegida por ter só a mim, ir aos poucos me perdendo... pra depois me reencontrar.
Como sei que pessoas são criaturas discordantes de tudo que se fale delas, por favor seres, não peçam que os aconselhe! Admiro vocês de longe... De longe os amo, de longe sou fã, de longe sou íntima... Isso tudo sem tocar.
De perto quis ver a poucos... Ah, mas sobre estes poucos, não precisei ouvir histórias pra gostar! Sei daqueles que não diziam muito, bem mais do que se poderia desvendar.
Eu gosto de ouvir o ritmo, as pausa, os gracejos, os trejeitos, o sotaque, as gírias... Gosto do silêncio, dos soluços, do gaguejar...
Às vezes nem me interessa a história. Basta-me a prosódia.
Amigos, já conversei com pessoas mudas, vocês acreditam? E não foi naquele alfabetozinho das mãos, mas conversei sorrindo. Chorando... Somente com o olhar.
Já um dia desses, um desses meus amigos que tanto dizia gostar de me ouvir falar, tava com vontade de me dizer umas coisas e veio, como se num palco, disse uma porção de coisas, sabe? Começou a gritar. Eu, não disse nada. Mas é o tipo de coisa que não dá pra deixar pra lá. É o típico comportamento de amigo. Desconhecidos conhecem bem o seu lugar.
Meus caros amigos, é o seguinte, não há vivente que goste de ouvir verdades. (E quando não são, menos ainda.). E além do mais sou dessas que não ando por aí dizendo coisas sobre pessoas, nem ouvindo pessoas que dizem coisas. Eu gosto de crônicas, de romances, de poemas... Histórias que alheios expressam de si, dos seus... Gosto de temas e nem gosto de repassar!
Há umas poucas pessoas, amigos, que ouço em todos os sentidos. Ouço com a pele, com os olhos, ouvidos, ouço com o respirar. Mas no mais, sou bem mais os estranhos em suas estranhas distâncias... Casuais, virtuais, circunstâncias.
Vocês, meus amigos, me desculpem, mas não gosto e nunca me interessei pela vida real.

E além do mais, sinceramente amigos, vocês falam muito mal.


Snow, aobre educação, comportamento, caráter... essas coisas difíceis de ensinar.

terça-feira, maio 12, 2009

Oficial

O médico hoje diagnosticou que eu tenho comportamento hormonal adolescente.
(Rs)
Quem não sabe?!


Snow, querendo mais é novidade!

sexta-feira, maio 01, 2009

O que você está fazendo?

Eu twitto
Tu twittas
Ele twitta
Nós twittamos
Vós twittais
Eles twittam

Acreditam que já conjuguei o modo indicativo todo? Pois é, tava sem fazer nada.


Snow, apaixonada.

Bagunça

As coisas estão todas apertadas sobre coisas.
Espremidas aonde cada coisa é uma coisa só...

E reparei que tenho muito espaço para guardar espaços.


Snow, que mudou de casa e de tempo.

sábado, abril 25, 2009

Bug's life

Um gafanhoto audacioso perde a cabeça e pica a esperança.
Esta assusta-se afônica, mas para surpresa de si mesma, maripousa-se no olhar que a corteja.
O cinzento não sabe ainda que ela é de escorpião.
Tão pouco suspeita da sua fama de viúva-negra.
Sabe apenas que esperança não é barata. Mas, sem que possa conter o formigamento, pede-lhe o telefone! (Ainda que com a pulga atrás da orelha.)
A esperança grilada diz o número errado.
Porém, arrepende-se. Esperança escaravelha, já não é mais uma joaninha-ninguém verde-adolescente.
O gafanhoto, antes zangão, louva-deus de tão contente. E como há muito não fazia, logo mais passará no barbeiro. Ele gosta tanto do cabelo encaracolado dela...
Ela teme que ele seja um carrapato - embora desconfie que tá mais pra lesma.
O gafanhoto acredita que acertou na mosca.

A esperança borboleta-se.


Snow, que queria ser um mosquitinho...

segunda-feira, abril 20, 2009

Polar

Chegou a época do tempo frio, da casa fria, das águas. E é inevitável não escrever sobre o frio sob o frio.
Sinto que estou cada vez mais fria que o frio que sinto.
“Bobagem” - diria aquele que pudesse chegar mais perto. - Mas eu já estou bem distante.
Nem o “esquente” na estação de ginástica montada às pressas pra preencher o espaço e o tempo vazios fazem lá essa diferença que imaginei que faria. É verdade, a diferença só vem com o tempo... E maldito seja esse tempo frio!
É nessa época também que me recordo do quanto fico trêmula com o vento. E o quanto me custa lavar os cabelos, os pratos, as roupas...
Curiosamente lembrei sobre a explicação que me deu certa vez a vizinha quando lhe questionei porque envolvia com tantos panos o aparelho de som e a tv: “É o seguinte, quando a minha televisão pifou e eu levei na assistência, o técnico me disse que era problema de 'solda fria'”. Entendi que ela os enrolava assim pra aquecer a solda...
É... aquecimento e enrolação têm lá seus pontos em comum. Pensando bem, tudo a ver.
Houve quem rejeitasse o lençol pra se acostumar com o frio...
Quem, de tão quente, ligava o ar na potência máxima...
Enrolados que não esquentavam com nada.
Frios que preferiram não enrolar...
Tantos invernos, jardins, infernos, afins...
Procurando por uma palavra específica encontrei sem querer numa caixa antiga um e-mail esquecido. Bateu aquele velho frio na espinha.
Quando do canto dos olhos já despontava um filete quente que escorreria na face derretida, finalmente a vista alcançou a assinatura daquela carta curta, fruto de uma espera comprida, sem prova, sem papel, sem envelope, sem selo...

No final do texto dirigido a uma certa Snow, se despedia com um singelo “beijo, Gelo”.


Snow, brrrr!!!

sábado, abril 18, 2009

Re-visão

Fiz exame de coração ontem
E descobri
Que aqueles batimentos todos que escrevi
Nos versos
Nas madrugadas de tédio
Nas solidões
Nada afetaram

Não me curaram
Nem me fizeram adoecer
Foram ineficazes
Em sua forma de ser

Engraçado...
Ele ficou por tanto tempo parado
E nas minhas veias só circulava você

(...)

Como ainda consigo viver?


Snow e Rafa(eu), por MSN.